quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nada de interação; o negócio é sério!




Poucos dias atrás estava procurando uma imagem de deuses da mitologia grega para ilustrar um artigo que escrevia para uma revista educacional.
A cada link que abria mais distante ficava daquilo que buscava. As imagens que me surgiam remetiam homens lindos, sarados, depilados, peludos, brancos, negros, quase que a granel.
Não vou negar que uma imagem me chamou a atenção. Um loiro lindo de morrer! Era um blog. Entrei, e comecei a ler os artigos daquele jovem rapaz que saberá Jesus deve estar até agora postando fotos de homens que ele mal conhece com os músculos trincados. Comecei então a ler alguns artigos do blog..., que para minha infelicidade não tinha nada a acrescentar.
Isso me fez parar e refletir sobre o universo Gay, o meu universo, digo isso sem nenhuma vergonha.
Já prestaram atenção nas paradas gays que rolam pelo mundo? Pergunto: aonde é que esta o respeito nisso tudo? Homens exibem seus corpos esculturais (a maioria, creio eu, Bi ou Heterossexual) que saem nas ruas não para reivindicar os nossos direitos como cidadãos, como pessoas, mas para exibirem seus músculos talvez na esperança de alcançarem o flash de algum fotógrafo ou revista e se darem bem como a jovem Geyse Arruda, aquela do vestidinho vermelho curto que foi rechaçada pelos colegas da Universidade e semanas depois foi parar numa participação do programa global Casseta e Planeta.
Mas você pode pensar: ‘quem é que não gosta de ver um homem ou uma mulher saradíssimos? Respondo: todo o mundo gosta até eu mesmo gosto.
O problema é quando esse despertar da libido sufoca o real motivo de uma causa.
O que encontrei no blog desse propagador de corpos masculinos não é diferente do que encontramos muitas vezes no universo gay: a interação em primeiro plano.
Um dos posts no blog apresentava dois homens nus, um negro e um branco, fazendo um 69 e o comentário da foto foi no mínimo confuso.
O cara não sabia se falava de preconceito, de músculos, de barriga tanquinho, de pêlos ou de depilação, de amor, de posições camasutras e por ai vai...e finalizou com a simples frase: ‘um dia ainda acho alguém assim que me sirva na cama’. Ele só não disse que tipo de serviço seria o tal ‘me sirva’.
Enfim, gostaria de despertar a consciência da comunidade gay para refletirem sobre ‘como e de que forma levantamos nossa bandeira’.
Será que nossa luta se confunde com direitos humanos ou corpos de homens sarados? O que fará mais falta em nossas paradas? Nossa bandeira do arco-íris ou os modelos de sunga em cima dos carros elétricos?
O rapaz do blog ao qual me referi, termina a postagem da foto que citei dessa forma: ‘nada de preconceito o negócio é interação’, fazendo alusão a foto entre um negro e um branco.
Repito, homem sarado é muito bom, mas priorizar esse estereótipo como símbolo de nossa comunidade não despertará em nossos governantes a seriedade com que tanto lutamos para a conquista dos nossos direitos civis.
Se quisermos ser tratados com igualdade ao ponto de vivermos com nosso parceiro livremente pelas ruas de dar-lhes direito de alguma coisa quando não mais estivermos vivos, ou termos a segurança em construirmos nossa vida ao lado de alguém que amamos, aconselho deixarmos mais de lado a interação dos corpos sarados exibidos ao som da música eletrônica e impormos mais nossa posição de seres humanos que somos, arqueados de sentimentos e desejos como qualquer outro hetero, bi, transexual ou simpatizante, além dos direitos e dos deveres para com a sociedade, inclusive a de pagar nossos impostos como todo ‘casal normal’.
Em matéria de lutarmos pelo que queremos, nós comunidade gay do Brasil, a frase é essa: Nada de interação, o negócio é sério.

Abraços e até a próxima!
Daniel Silva

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