terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Relacionamentos que funcionam













Que tipo de relacionamento funciona? Quais são as regras? O que realmente é um ‘relacionamento que dá certo’? Qual a diretriz? Qual o critério que se usa pra avaliar uma relação? Quem nunca desejou um relacionamento no mínimo ‘perfeito’?


Pelo menos um de nós conhece, presenciou, viveu ou testemunhou uma história de um relacionamento que ‘não deu certo’. Eu particularmente conheço várias histórias e conheço inúmeros casais (heterossexuais e homossexuais) que viveram o terror do relacionamento que ‘não deu certo’.

Acredito que pra se entender um pouco a questão ou até mesmo ‘pensar’ sobre o assunto é importante lembrarmos que existem vários tipos de relacionamentos, vejamos: podemos estabelecer um relacionamento até mesmo com nossos animais de estimação, onde não há a relação que chamamos ‘verbal’ (acho que por isso nos damos tão bem com eles, rs); podemos estabelecer uma relação com alguém que acabamos de conhecer pessoalmente e em tempos cibernéticos porque não falar até virtualmente. Estabelecemos relacionamentos com nosso vizinho, com nosso colega de infância, de colégio, de academia, de balada, de trabalho, enfim, relacionar-se entre pessoas é a forma concreta em que estabelecemos um contrato de comunicação e tratamento onde ambos buscam uma parceria em prol de um objetivo. E como toda boa parceria entre os indivíduos, alguém sempre vai ter que ceder (perder) em alguma vantagem para manter a cooperação em prol do objetivo.

É claro que a maioria dos ‘objetivos’ na maioria dos relacionamentos, principalmente o relacionamento amoroso entre dois indivíduos de sexo oposto ou indivíduos do mesmo sexo, é o ‘fazer o outro feliz’.

Nessa questão do relacionar-se, penso que ‘ceder’ nãoé o mesmo que ‘obedecer’ pois a obediência tem como estrutura a subordinação da vontade a uma autoridade ou a um conjunto de regras e deveres estabelecidos.

Ceder quer dizer ‘dar de si’ ‘abrir mão de algo em favor de alguém ou uma causa’. Ceder nos faz abrir mão dos nossos próprios conceitos, nossas próprias regras, é colocar nossa afirmação em segundo plano. Ceder nos abre um leque de possibilidades conduzidas por meio de diálogos equilibrados de maneira que um veja as reais necessidades do outro sem medo de se expor, de expor suas angústias, inseguranças, medos, anseios, dúvidas... e desse diálogo estabelecer como parceiros novas diretrizes e caminhos que se façam necessários para alcançar o objetivo, o de fazer o outro feliz.

Dizer que o relacionamento A funciona e o relacionamento B não funciona é porque temos a idéia do que realmente funciona. Então, qual é orelacionamento que funciona? Ou, pra viver um relacionamento amoroso com você, qual o tipo de homem ou de mulher que ‘funciona’?

Funcionar é sinônimo de longevidade? Ou seja, o relacionamento ideal pra você é aquele em que você pretende passar o resto da vida com aquela pessoa? Quanto mais durar um relacionamento mais ele funciona? Tem maiores ‘chances’ de conquistar seu coração aquele (a) que tem ‘gostos’ bem parecidos com os seus? Ou a teoria ‘os opostos se atraem’ é melhor?

Prefiro partir do pressuposto que eu + tu = nós. Nessa teoria, o eu não é totalmente conhecido do tu no começo de uma relação, mas o nós sabemos que é a junção dos dois. Num relacionamento amoroso, o sub-objetivo é fazer-se conhecer, já que o objetivo principal é ‘fazer o outro feliz’. Digo ‘fazer o outro feliz’ porque ninguém entra num relacionamento amoroso ou em qualquer outro relacionamento procurando infelicidade, todos nós buscamos o mesmo objetivo: ‘sermos felizes’. Até mesmo os relacionamentos mais duradouros, sempre há algo a ser descoberto, visto. Como no velho ditado: ‘coma uma tonalada de sal até conhecer o seu próximo’, ninguém é conhecido (a) em sua totalidade, acredito que nem nós mesmos podemos dizer que nos conhecemos na totalidade. Se num relacionamento o meu objetivo é este, de fazer o outro feliz, conseqüentemente se o meu parceiro (a) tem o mesmo objetivo, não ficará lacuna de maneira que somente um trabalhe em prol deste objetivo.

É esse o desafio, a dificuldade e a magia do ‘conhecer’: o eu mostrar-se ao tu, o tu mostrar-se ao eu para que o eu e o tu conheçam o nós. Assim como o eu e o tu são pessoas diferentes do discurso (eu, primeira pessoa do singular; tu, terceira pessoa do singular), lembrando as regras gramaticais da nossa língua, não é diferente quando duas pessoas resolvem estabelecer um relacionamento afetivo. O eu terá jeitos e interesses muitas vezes bem diferentes do tu. O tu, por sua vez, terá quem sabe, algumas experiências boas e outras ruins, advindas de outros relacionamentos. O eu terá uma personalidade menos marcante ou agressiva com relação ao tu. O tu vai preferir um fim de semana agitado com programação que vai de balada eletrônica à churrasco na beira da piscina num domingo a tarde, enquanto o eu sugeri um filme em casa com pipoca na companhia do tu e um almoço no restaurante ‘y’ no domingo.







Talvez o típico relacionamento ‘opostos se atraem’? Não. Só fiz aqui uma colocação do que realmente pode acontecer e ressaltar que por mais que o seu parceiro (a) tenha várias coisas em comum com você, certamente, uma dessas diferenças um dia virão a tona. Mas enfim, qual relacionamento que funciona? Não é essa a questão?

Penso que, o relacionamento que mais se aproxime do ‘funciona’ é exatamente aquele relacionamento que cumpre com a sua função, já que, funcionar é a mesma coisa que ‘por em funcionamento’, ‘em função de’.

Na teoria do eu + tu = nós, o eu vai continuar sendo o eu assim como o tu continuará sendo o tu, com todos os seus desejos, seus medos, suas inseguranças, seus sonhos, seus bichinhos de pelúcia ou sua coleção de Cd’s do Nirvana. Na verdade o nós será o resultado daquilo que o eu e o tu proporem fazer juntos. Será o resultado da soma de todas as igualdades e diferenças que conseqüentemente o eu e o tu carregam durante o relacionamento. É o eu ser um pouco do tu; é o tu ser um pouco do eu e ambos descobrirem o universo um do outro, dentro dos limites do respeito e amor que estabelecerem através dos diálogos. Medir um relacionamento pelo seu tempo e não por sua qualidade pode nos fazer cair no estereótipo do relacionamento ‘antes acompanhado que sozinho’. Nem todo casal que comemora seus 10, 20 anos de relacionamento podem dizer que ‘funcionam’ como também não se pode dizer que comemorar anos de convivência seja sinônimo de um relacionamento que não ‘funciona’ e por questão de conveniência e comodidade resolveram ficar juntos. É claro que nenhum de nós inicia um relacionamento amoroso com data de início e término, sempre buscamos algo duradouro e isso é natural. Não se pode ter a diretriz de tempo como sinônimo de um namoro que deu ou dá certo, que ‘funciona’.

Respondo a questão levantada, na minha pequenez experiência, pensando que o relacionamento que funciona é aquele em que independentemente do tempo que se passou ou que se passa o eu e o tu juntos conseguiram conhecer a mistura de ambos que dá origem e vida ao nós e conseguem de alguma maneira sustentar o amor, carinho e respeito que construíram. Como diria Fernando Pessoa: O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Numa licença poética eu diria: ‘o valor dos relacionamentos não está no tempo em que eles duram, mas na intensidade com que acontecem.

©Daniel Silva

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